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Educação

"Essa conquista não é só minha. É da minha família."

No Dia da Educação, 28 de abril, conheça a história de Fernanda Lisboa e seu pai, Lourenço Lisboa

Diretoria de Comunicação — 28 de Abril de 2025 — Atualizado em 28/04/2025

Lourenço Pavão Lisboa, pai da agora Agrônoma pela UFFS, Fernanda Lisboa, super emocionado durante a colação de grau da filha

Na foto da colação de grau, Lourenço Pavão Lisboa aparece ao fundo, com os olhos marejados, as mãos trêmulas e o peito transbordando orgulho. O pai de Fernanda Lisboa, recém-formada em Agronomia pela Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), é o retrato mais sincero do que significa ver uma filha romper barreiras estruturais com a força da educação. A cena emocionou quem estava presente e nos inspirou a contar a história de Fernanda Lisboa — uma história que é também de muitas e muitos que constroem caminhos possíveis a partir das políticas públicas de acesso ao ensino superior.

Fernanda nasceu em Iguatemi, no Mato Grosso do Sul, e foi aluna da UFFS - Campus Erechim no curso de Agronomia ofertado em parceria com o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera). Neta de assentados, sua trajetória sempre esteve entrelaçada com o campo — e com as lutas por acesso à terra, à dignidade e ao conhecimento. Desde jovem, era incentivada, principalmente pelo seu pai, a estudar. Foi na Escola Família Agrícola (EFA) de Itaquiraí que ela começou a desenhar esse futuro. Lá, fez o curso técnico em agropecuária e foi indicada a concorrer a uma vaga no curso superior em Agronomia, oferecido pela UFFS por meio do Pronera, no município de Pontão (RS). “Eu costumo dizer que esse curso não era o que eu queria, mas era o que eu precisava, porque eu me sinto muito realizada por ter feito esse curso”, conta Fernanda. E o que parecia uma necessidade acabou se transformando em realização: ela se encontrou na Agronomia e, com muito esforço, concluiu o curso no início de 2025. Fernanda é a primeira pessoa da sua família — composta pelos pais, irmão e cunhada — a conquistar um diploma de ensino superior.


A conquista, no entanto, não veio sem obstáculos. Durante a graduação, viveu longe da família, enfrentou dificuldades financeiras, o luto pela perda de uma sobrinha ainda bebê, e até pensou em desistir. Mas foi o apoio da família — e especialmente do pai — que a sustentou. “Meu pai sempre teve muito medo de eu depender de alguém, de passar humilhações que ele mesmo viveu ao longo da vida. Então me ensinou desde cedo a ser independente. Quando eu pensei em desistir, ele me lembrou que a única coisa que ninguém poderia tirar de mim era o meu estudo”, relata. A trajetória de Fernanda é marcada por idas e vindas entre Estados — Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio Grande do Sul — e por experiências de aprendizado em diferentes contextos: aulas presenciais, ensino remoto por causa da Pandemia de Coronavírus que assolou o mundo em 2020 e 2021, contribuições em escolas do Movimento Sem Terra, estágios em propriedades rurais e, agora, o início da vida profissional em uma cooperativa de sucos no interior do Rio Grande do Sul. A colação de grau foi o símbolo de tudo isso: da coragem de uma jovem que lutou para permanecer estudando, do apoio de uma família trabalhadora, e da importância de políticas públicas como a UFFS e o Pronera, que oferece a jovens e adultos do campo a chance de transformar suas histórias por meio da educação. “Durante toda a cerimônia meu pai estava muito emocionado, só de me ver de beca, ainda no início, quando estávamos arrumando tudo ele já começou a chorar. Eu falei pra ele que essa conquista não é minha, é nossa, da nossa família”. 

A frase de Fernanda resume não apenas a gratidão por quem a acompanhou nessa jornada, mas também o valor coletivo da educação pública, gratuita e de qualidade — um direito que, quando garantido, muda destinos. “A UFFS e o Pronera, para mim, são símbolos de justiça, de reconhecimento e de oportunidade. Eles me permitiram acessar um espaço que por muito tempo nos foi negado, o da educação superior com identidade, uma educação de qualidade não deixando a desejar nas nossas origens voltada para pequenos agricultores. Pra mim, ter tido acesso à educação por meio de uma política pública como o Pronera é muito mais do que uma conquista individual, é uma conquista da minha família, dos meus pais que sempre acreditaram em mim, mesmo diante das dificuldades, eles estiveram comigo em todos os momentos, de toda história de luta que foi desde lá atrás na dura na época de acampamento meus avós para a conquista da terra e foi essa luta que me possibilitou ser beneficiária da reforma agrária. Então eu só tenho a agradecer minha família pelo apoio, ao MST por toda história de luta, à UFFS, ao Pronera por nos permitir acesso à educação, ao Instituto Educar que foi minha casa por todos esses anos e por segurar tanto a barra diante de todas as dificuldades de manter uma turma dentro de um curso superior”, finaliza Fernanda. Para o pai, Lourenço Pavão Lisboa, ver a filha se formar num curso superior é a realização de um sonho. “Eu sempre acreditei nela, pois ela sempre se dedicou aos estudos. Eu tenho muito orgulho da Fernanda”, comenta. “Naquele momento da formatura eu era só emoção no meu coração. Não consegui me segurar, chorei muito. Estava muito feliz. Sou um pai muito feliz”, conta Lourenço, emocionado. Para a reitora da UFFS em exercício, Sandra Pierozan, esse curso, ofertado em parceria com o Instituto Educar e no âmbito do Pronera reforça o compromisso social e político da UFFS em prol da superação das desigualdades sociais e regionais. “Eu gosto sempre de destacar uma provocação do educador Carlos Rodrigues Brandão que diz  “Educação, educações?” Eu entendo que ela abre essa possibilidade de refletirmos sobre as educações, que nós temos condições de fazer outros modelos, outras propostas, de abrir nossos horizontes e atender as demandas e as peculiaridades que cada um dos grupos sociais possuem. E eu acho que esse curso de Agronomia reflete isso, de maneira muito emblemática. Viabilizar o acesso à educação a grupos que tradicionalmente são excluídos do processo educacional exige construções políticas. Então se essas políticas são desenhadas em âmbito federal, nós entendemos que cabe à universidade a continuidade da execução dessa política através da viabilização de cursos com políticas diferenciadas de acesso que esse grupo específico precisa”, comenta. Neste 28 de abril, Dia da Educação, a UFFS celebra histórias como a de Fernanda Lisboa: histórias que reafirmam o poder transformador do ensino, especialmente quando ele alcança quem mais precisa.

Sobre o curso

O curso de Agronomia, ofertado pela UFFS em parceria com o Instituto Educar é um projeto desenvolvido pela UFFS - Campus Erechim (RS) e tem como público alvo jovens e adultos moradores de assentamentos criados ou reconhecidos pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). É realizado no Instituto Educar, de Pontão (RS), e financiado pelo Incra, o projeto integra o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera). Além de moradores de assentamentos, a turma especial do curso de graduação em Agronomia com ênfase em Agroecologia também é aberta a quilombolas, trabalhadores acampados cadastrados no Incra e beneficiários do Programa Nacional de Crédito Fundiário.  A oferta do curso de Agronomia via Pronera começou em 2014 na UFFS. Em 10 anos, foram abertas quatro turmas, com três delas já concluídas. 

A terceira turma, que se formou em março de 2025, foi a turma de Fernanda. O curso adota a metodologia da Alternância como uma maneira de atender à população das áreas de reforma agrária e agricultura familiar sem que tenham a necessidade de abandonar as atividades agrícolas. O regime da Alternância Pedagógica é caracterizado pela articulação planejada entre os dois tempos formativos que atravessam a vida do estudante, que são o Tempo Universidade (TU) e o Tempo Comunidade (TC), viabilizando, dessa forma, a capacitação profissional e a permanência dos trabalhadores e trabalhadoras no projeto sem maiores prejuízos a sua continuação no mundo do trabalho.

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