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Pesquisadores investigam organizações sociais rurais do Oeste de SC

Além da organização dos movimentos, grupo pretende propor alternativas ao desenvolvimento do turismo histórico-cultural e proporcionar uma perspectiva crítica para a formação de professores da rede pública

Assessoria de Comunicação - Campus Chapecó — 01 de Abril de 2025 — Atualizado em 01/04/2025

Pesquisadores investigam organizações sociais rurais do Oeste de SC

Pesquisadores entrevistam moradores dos territórios sobre o processo de organização desses movimentos

Experiências de organizações sociais rurais do Oeste catarinense estão sendo estudadas no projeto desenvolvido na UFFS – Campus Chapecó, “Nas trilhas da História, Memória e Arqueologia dos conflitos na Fronteira Sul”, com financiamento da Fapeu, desde outubro de 2023. Uma nova aprovação, dessa vez em um edital da Fapesc, garantirá a continuidade e o aprofundamento dos trabalhos, com o projeto “Patrimônio Cultural Rural no Oeste de Santa Catarina versus capitalismo global: Da resistência dos sem terras, quilombolas e caboclos ao desenvolvimento do turismo histórico-cultural”. 

Conforme o coordenador do projeto, professor Émerson Neves da Silva, o projeto analisa experiências de organizações sociais rurais no Oeste de Santa Catarina, em especial o Quilombo Invernada dos Negros, em Campos Novos; a Comunidade Quilombola Campo dos Poli, em Monte Carlo; a Comunidade de Taquaruçu, local onde eclodiu a Guerra do Contestado, hoje situada em Fraiburgo; o assentamento da reforma agrária Santa Rosa III, em Abelardo Luz. 

 São vários objetivos no mesmo projeto: além de investigar o processo de organização desses movimentos, o grupo pretende propor alternativas ao desenvolvimento do turismo histórico-cultural e proporcionar uma perspectiva crítica para a formação de professores da rede pública. 

Em 2024, a equipe entrevistou membros das comunidades estudadas e reuniu outras fontes históricas, como documentos relativos aos processos de reconhecimento do Estado dos territórios, iconografia representativa da memória e dos conflitos protagonizados pelos sujeitos. Na fase atual, o grupo produz a análise desse material para a sistematização em um livro, o qual tem previsão de lançamento em março de 2026. 

O professor explica que a pesquisa tem se aprofundado sobre como os sujeitos estudados produzem estratégias de (re)existências no território ao serem submetidos ao processo de modernização tecnológica e produtiva do agrário (o que, segundo o professor, intensificou a concentração fundiária e a conexão à agricultura globalizada). “Diante dessa realidade as comunidades ressignificam o passado através da memória e implementam uma série de ações no cotidiano que podem ser caracterizadas como alternativas ao mundo vivido. Dessa forma, é comum entre os grupos analisados o desenvolvimento da agricultura de base agroecológica, relações comunitárias enquanto forma de fortalecimento do coletivo, da identidade do grupo e questionamento do modelo agrícola baseado na agricultura globalizada. Há preocupação dos sujeitos das diferentes comunidades na manutenção de saberes tradicionais e na memória de suas lutas históricas para as gerações futuras”. 

De acordo com o coordenador, o projeto promove o fortalecimento da identidade e a ressignificação da memória coletiva, e, a partir disso, os sujeitos estabelecem um novo olhar sobre o território. “Neste sentido, o turismo histórico-cultural passa ser uma alternativa econômica e de promoção da (re)existência das comunidades, na medida em que pode possibilitar uma nova forma de diálogo da comunidade com a sociedade em geral. Essa interação por sua vez pode abrir caminho para socialização de formas distintas de compreensão da natureza”. 

Ele explica que, com esse intuito, o projeto tem a meta de contribuir com a organização de lugares de memória representativo da história de luta e (re)existência dessas comunidades, criando as condições objetivas para visitação pública desses espaços. Um exemplo bem prático está no assentamento Santa Rossa III: lá será realizada uma escavação arqueológica na área do antigo acampamento, o que, de acordo com o professor, possibilitará que a comunidade organize espaço de exposição dos artefatos encontrados com a escavação no assentamento. 

A invisibilidade dessas comunidades pela historiografia tradicional e pela sociedade em geral é bastante comum, especialmente pelo fato de os sujeitos representarem um longo período de conflitos agrários e sociais, segundo o professor. “De forma geral, a nossa sociedade percebe esses grupos como entraves ao desenvolvimento do capitalismo agrário. Apesar desse cenário, estão presentes e atuando pelo direito ao acesso à terra, bem como o interesse em produzir uma outra forma de agricultura e relações de produção no cotidiano, alternativas ao modelo hegemônico”. 

Ele acrescenta que essas comunidades orientam as suas práticas produtivas e sociais a partir da ancestralidade do campesinato negro, da cultura cabocla, camponesa e indígena. “São histórias subalternizadas, e isso faz com que as elites econômicas e políticas locais e nacionais negam a existências dos mesmos como sujeitos históricos. 

Em Santa Catarina, especificamente, há a preocupação destas elites em demonstrar um lugar de pessoas brancas associadas ao progresso, invisibilizando e violentando populações não brancas e os que não usam a terra em favor do agronegócio”. 

Para reduzir essa invisibilidade e contar essas histórias, o projeto também prevê a formação de professores a respeito do tema. “Em geral, os livros didáticos não tratam dessa temática de forma significativa. Quando abordam é de forma panorâmica. Por outro lado, a formação de professores também apresenta lacunas. É fundamental apresentar material historiográfico de qualidade que possa servir de instrumento didático nos cursos de graduação e para os profissionais que buscam formação continuada. Temos que colocar em relevo a história dos quilombos na região, por exemplo, para desconstruirmos a visão hegemônica que inviabiliza esses sujeitos”. 

Dessa forma, ele explica que a pesquisa será materializada em livro visando trazer esse ponto de vista aos currículos eurocentrados existentes, em geral, nos cursos de formação de professores. “Ao ouvir as pessoas historicamente excluídas construímos outras narrativas com objetivo de justiça social a todos/as que foram silenciados pela sua condição de classe, de raça de etnia”. 

O livro, fruto das pesquisas, será lançado em um seminário de encerramento do projeto, cujo objetivo será a apresentação dos resultados das investigações. Será um material com a discussão produzida no decorrer da pesquisa e parte da iconografia e documentos representativos da memória representativa dos sujeitos estudados. 

Também será criado um espaço virtual, no qual o grupo compartilhará textos, iconografia, mapas e outros documentos das comunidades e lugares de memória pesquisados, para que os interessados, em especial, professores e alunos da educação básica, possam realizar pesquisas sobre a história dos movimentos pesquisados. 

População dos territórios 

As pessoas do território da Invernada dos Negros possuem sua ancestralidade naquele território herdado há cerca de 150 anos e seus relatos, histórias compartilhadas nos revelam os traumas por violências físicas e psicológicas sofridos ao longo deste tempo. Este território foi retalhado e expropriado pelas elites madeireiras e do agronegócio locais, mas é na terra e na coletividade onde se encontram as forças condutoras para existirem e resistirem. 

As pessoas do Campo dos Poli estão aguardando a assinatura do decreto presidencial para reconhecimento do território quilombola e ter acesso a área de forma efetiva. Na atualidade, as famílias estão residindo na periferia do município de Friburgo, enfrentando uma situação de vulnerabilidade social. 

As famílias do Santa Rosa III e Comunidade de Taquaruçu se deparam com as dificuldades de desenvolver agricultura camponesa de base agroecológica em meio ao contexto produtivo marcado pela agricultura capitalista e conectada ao global, produtora de commodities, como, por exemplo, a soja, milho e madeira de reflorestamento. São grupos subalternizados pelo Estado e pela sociedade.

Conforme Émerson, de forma preliminar, é possível afirmar que as comunidades analisadas compartilham da herança histórica da expansão da fronteira agrícola sobre as áreas dos seus ancestrais no século XX. “Além da privação do acesso e ou dificuldade de permanecer na terra, também é comum a submissão desses grupos as relações de exploração socioeconômicas promovidas pelas elites da região. Perpassa por todas as comunidades a organização coletiva por direitos sociais, como acesso à educação, saúde e a terra/território”.

Equipe envolvida 

Docentes: Émerson Neves da Silva; Antônio Luiz Miranda; Jaisson Teixeira Lino; Renilda Vicenzi; Eliane Taffarel; Lídia Lúcia Antongiovani; Ederson do Nascimento.

Discentes: João Carlos Fávero; Marcelo Augusto de Souza; Andréia Richtyelly dos Santos Corassa; Nathan Chraister Santos Lourenço; Laís Amanda Balzan; Tayna Aymê Pelegrini Mohr; Gabriela Maria Andrighi.

Comunidade Regional: Ernesto Puhl Neto e Fábio Araújo. 

Leia também a matéria sobre o projeto publicada na edição 15 da Revista da Fapeu.

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