Apresentação
O livro reúne literários sobre temas, fatos e aspectos relevantes da formação histórica do este catarinense. Nem sempre foi possível separar os dois gêneros literários, a crônica e o relato. Na prática, eles se misturam do começo ao fim. “As balsas do rio Uruguai”, relato/crônica dá título ao livro, constitui um episódio marcante da história da região, não só pelo seu caráter de aventura e muitas vezes de tragédia, mas principalmente pela sua importância na história econômica regional. Durante muitos anos, a extração e a exportação da madeira bruta pelo rio foi consequência do avanço do processo de colonização e ao mesmo tempo se constituiu em importante fator dinâmico daquela economia.
O último tropeiro e o assalto ao trem pagador são uma crônica sobre o papel do caminho das tropas, que serviu de roteiro à construção da estrada de ferro, integrando a região à economia nacional. Outros temas relacionados ao processo de colonização do Oeste são o mundo caboclo e a realidade indígena, Sepé e Condá, em que se descreve o processo de marginalização dos caboclos pelo avanço da colonização e as diferentes estratégias dos líderes indígenas para enfrentar a ocupação de suas terras na região das missões do RS e no Oeste de SC. Já “o ovo da serpente”, a “vigésima quinta hora” e “cidade colonial” se referem às transformações sofridas pela agricultura familiar no processo de integração com a grande indústria frigorífica. A “cidade submersa” representa o preço do progresso pago por aquela pequena comunidade. O poder político das pessoas abastadas está sempre presente como a “sombra dos coronéis”. A terra prometida traduz o sonho de milhares de colonos que migraram para as novas terras do Oeste em busca de melhores condições de vida.
Os relatos e as crônicas que compõem este ensaio perpassam, sobretudo, os sonhos e as peripécias de quem migra. O migrante [ou seria o ser humano?] sempre sonha, acredita, confia numa vida melhor, a “terra prometida”, para si e para a sua família, está sempre no horizonte, mesmo que em seu íntimo tenha presente que os processos históricos se constroem ou constituem recheados de dificuldades e contradições da vida real.
Usando uma linguagem figurativa, pode-se dizer que as balsas, que dão o título do livro, navegam livremente por diversos caminhos que atravessam diferentes territórios, reais e imaginários. Navegam com bastante liberdade pelo tempo e pelo espaço do Oeste catarinense. Navegam no fundo das águas para visitar uma cidade submersa, navegam por espaços materiais e culturais que marcaram a vida de colonos e de diferentes grupos que habitavam esse território, navegam..., navegam até mesmo pelo rio.
Autor
Gentil Corazza
Doutor (Unicamp) e Mestre (UFRGS) em Economia, especialista em Sociologia do Desenvolvimento, graduado em Economia e Filosofia. Pós-doutor pela Sorbonne. Foi professor titular e diretor da Faculdade de Economia da UFRGS; professor visitante da Unila e da UFFS; pesquisador da Fundação de Economia e Estatística; bolsista do CNPQ; membro do comitê de Economia da Capes e editor de revistas econômicas. Entre suas publicações, além de artigos em periódicos especializados, capítulos de livros e outros gêneros textuais, constam as obras “História Centenária da Faculdade de Ciências Econômicas 1909-2009”, “Métodos da ciência Econômica”, “A Junta Comercial no contexto da economia do Rio Grande do Sul” e “Teoria Econômica e Estado-de Quesnay a Keynes”.