A inovação da pesquisa está em não usar os ativadores químicos convencionais, que são caros e têm alto impacto ambiental. Foram combinados o pó de vidro fotovoltaico com outro resíduo, a cal produzida a partir de cascas de ostra, e a própria composição do vidro permite que a reação 'se ative'. Nos testes, o material já apresentou resistência mecânica suficiente para diversas aplicações, mostrando que é tecnicamente viável.
Os estudos relacionados à pesquisa foram implementados durante o Trabalho de Conclusão do Curso de Engenharia Ambiental e Sanitária, ofertado na UFFS – Campus Erechim. O trabalho tem autoria Carolina Menegolla e como coordenador o professor Eduardo Pavan Korf, e como co-orientador o professor William Levandoski. Os estudos iniciaram com a mestra Mariana Krogel, no Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia Ambiental. A pesquisa foi desenvolvida no
Laboratório de Resíduos e Geotecnia Ambiental (LABGEOAMB) da UFFS -
Campus Erechim.
“O que esse granizo nos mostrou, de forma trágica, foi a urgência de pensarmos no 'fim da vida' dos produtos que adotamos como soluções verdes, como a energia solar. A economia circular precisa ser posta em prática. Nossa pesquisa é um exemplo de como a Universidade pode atuar para transformar um problema ambiental imediato — o descarte dessas placas quebradas — em uma oportunidade para desenvolver materiais de construção mais sustentáveis, agregando valor a um resíduo e fechando o ciclo de maneira inteligente”, sustenta Pavan Korf.
Seguem questões relacionadas à pesquisa ponderadas pelo professor Eduardo Pavan Korf e a estudante Carolina Menegolla.
Como surgiu a ideia da pesquisa?
A pesquisa surgiu a partir da ideia proposta pela mestranda Mariana
Krogel, do Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia Ambiental
(PPGCTA), de reaproveitar o vidro das placas solares fotovoltaicas
como matéria-prima para a fabricação de novos materiais, em conjunto
com a cal de casca de ostra e ativador alcalino comercial. A proposta
inicial dela deu origem ao projeto, que visa investigar soluções
sustentáveis para esse resíduo específico. Já a proposta do TCC
da Carolina testou o vidro das placas solares fotovoltaicas como matéria-prima
para a fabricação de novos materiais, em conjunto com a cal de casca
de ostra, porém “sem” ativador alcalino, o que representa uma nova
solução tecnológica desenvolvida 100 % a partir de resíduos como
matérias-primas.
É possível falar um pouco da metodologia utilizada?
O vidro utilizado foi extraído de módulos fotovoltaicos fornecidos
por diversas empresas do sul do Brasil. Um total de sete módulos foram
utilizados. O vidro foi extraído mecanicamente de módulos
fotovoltaicos usando um britador, um método escolhido por sua relação
custo-benefício e menor impacto ambiental em comparação com outros
métodos da literatura. Em seguida, o material passou por um processo
de moagem para obter a granulometria de 75um.
Quais são os ganhos econômicos e ambientais de uma pesquisa como esta? É possível quantificar os benefícios?
Esta pesquisa gera ganhos ambientais ao desviar resíduos de
aterros, reduzir a extração de matéria-prima virgem e diminuir o
consumo energético na extração de matérias-primas e processos
produtivos e as emissões de CO₂ associadas. Economicamente, transforma
um passivo (custo de descarte) em ativo, criando um novo mercado para
o resíduo, que se torna uma matéria-prima secundária, com valor
agregado.
Vocês pretendem continuar os estudos utilizando outros materiais?
Sim, a intenção é expandir os estudos para outros resíduos,
testando a criação de novos ligantes ou materiais compostos. O
objetivo é aproveitar resíduos abundantes e problemáticos, como casca
de ovo, cinzas de biomassa ou resíduos de construção e demolição,
combinando-os com o vidro fotovoltaico ou entre si.
Quais os próximos passos da pesquisa?
Desenvolver e testar formulações combinando-o com outros resíduos e
também testando o material em outras condições, bem como avaliar e
quantificar os benefícios sociais, econômicos e ambientais.